domingo, 25 de março de 2007

6 meses depois...

Hoje eu completo 6 meses vivendo na "Terra da batata, do chucrute e da cerveja" e resolvi fazer um balanço do que eu sentiria falta (e do que eu não sentiria falta de jeito nenhum) caso fosse embora hoje.
Então, vamos lá!

Do que EU sentiria falta:


- da família do Schatz, que é minha 2a família;
- dos amigos que fiz aqui;
- da qualidade do Sistema de Transporte Público, apesar de que quase nunca uso;
- das ótimas estradas;
- das ruas sempre limpas;
- do respeito dos motoristas para com os pedestres e ciclistas;
- de quase nunca ouvir uma buzina;
- da segurança (poder sair de casa sem a neura de verificar "trocentas" vezes se a porta está realmente fechada);
- da pontualidade germânica;
- dos chocolates;
- das mil e uma coisas que existem aqui para facilitar a vida da dona de casa;
- do telefone Flatrate,
- de fazer chamadas internacionais a um custo baixíssimo;
- da Internet de altíssima velocidade;
- da programação da TV (aguentar o Faustao no domingo novamente seria de morrer);
- de poder assoar o nariz na hora que eu quiser sem ter a preocupação de me olharem feio;
- do Outono (as árvores com suas folhas alaranjadas);
- da Primavera (amo ver as flores enfeitando casas e jardins);
- das tardes passeando com o Schatz (normalmente, ele chega do trabalho às 15hs e sempre saímos para fazer alguma coisa; agora estou aprendendo a andar de Inline skate);
- de caminhar nos lindos Parques;
- de dar comida aos cisnes no rio Main (apesar de que é proibido);
- de visitar os inúmeros museus, zoos e castelos que existem aqui;
- dos Weihnachtsmarkts (lindos!);
- da proximidade dos demais países da Europa;
- das compras, principalmente roupa de inverno: boa e barata;
- do Ikea;
- do meu Sprachkurs;
- do silêncio;
- da neve…

Do que eu NAO sentiria falta:

- das Operadoras de Caixa de Supermercado que parecem estar SEMPRE com TPM;
- dos fumantes por todo lado, inclusive em locais fechados;
- da água com gás (detesto);
- da culinária alemã;
- da obrigatoriedade de ficar completamente pelado pra poder entrar na Sauna;
- do inverno que parece não acabar nunca! amo a neve mas detesto o frio, os dias muito curtos e escuros.


Como vocês podem ver, a lista dos "prós" ainda é bem maior que a lista dos "contras" (que continue assim!), então, vou ficando por aqui. ;-)


terça-feira, 6 de março de 2007

Não tropece na língua

Às vezes saber um pouco é mais perigoso do que não saber nada. O que é um "Halver Hahn"? "Eine Billion" não é um bilhão? Como se diz "celular" em alemão? E onde está rolando essa "wasserfest"?

Uma palavra é uma palavra. Mas um termo mal interpretado também pode redundar em espírito festeiro frustrado, erros contábeis astronômicos, saladas e pudins de leite gorados, comer porco por vaca e constrangimentos de toda ordem. E aqui, o complexo idioma germânico não é exceção.
O risco é tanto maior quanto mais você confia em seu poder de dedução e no "pouquinho" do vocabulário que conhece. Sobretudo no alemão, que permite criar novos conceitos por mera justaposição de termos, a simples dedução é uma faca de dois gumes. Não só ocorrem, no dia-a-dia, variações a partir do significado original, como há empregos figurados, falsos cognatos, desvios semânticos e adaptações arbitrárias à realidade local.
A seguir, um rápido guia para se livrar de algumas das armadilhas mais comuns para turistas e recém-chegados:

Billion – Alguém lhe prometeu "eine Billion Euro". Alegre-se mesmo: você será trilionário! Não é um erro de digitação: entre a ordem de grandeza Million (10^6) e Billion (10^12), o idioma alemão tem Milliarde, o equivalente ao nosso bilhão.
Wasserfest – Wasser é água. Bem, já que Oktoberfest é "festa de outubro" (comemorada em Munique, diga-se de passagem, no final de setembro), wasserfest só pode ser alguma festa aquática, certo? Errado: o "fest" neste caso nada tem a ver com festividade, é um adjetivo significando "firme", "resistente", portanto "à prova de". Da mesma forma, feuerfest é "à prova de fogo".
Não há como negar: além de ser, sabidamente, o lugar mais perigoso da casa, a cozinha também é o mais propício a equívocos lingüísticos:
Chicoree x Endivien – Ambas são verduras, ambas meio amargas e podem ser comidas cruas ou cozidas, mas têm aparências completamente diferentes. E nomes tão... lógicos. Só que, acredite se quiser, a lógica funciona exatamente ao contrário em alemão: endiva (também conhecida como endívia belga ou endives: folhas pontudas e lisas, verde esbranquiçado) é Chicoree; enquanto a chicória (chicarola ou escarola: folhas largas e crespas, verde-escuro) é Endivien. Durma-se com um barulho desses! A chave do mistério é que ambas pertencem ao gênero botânico Cichorium.
Porco ou vaca? – No restaurante você pediu Fleisch, que quer dizer carne, claro. Portanto, salvo indicação em contrário, bovina, como no Brasil. Será? Então, o que é que este pedaço de porco (Schwein) está fazendo no seu prato? Um tipo de situação que demonstra o quanto de história, economia, sociologia, hábito, gosto, etc., se esconde por trás de um conceito banal. O default – valor padrão – para "carne" na Alemanha é porco, o principal animal de corte na pecuária e na gastronomia nacionais. O termo específico Schweinefleisch costuma ser reservado para contextos ambíguos. Contudo vem-se tornando mais freqüente, devido a uma maior sensibilização para os tabus alimentares islâmicos e judaicos. A carne bovina é normalmente especificada como Rindfleisch.
Nuss – Um caso semelhante: embora seja um termo genérico e conste do dicionário como "noz", o default para frutos secos na língua alemã é avelã (Haselnuss). Noz é Walnuss.
Kondensmilch – Você está morrendo de saudades do Brasil. Nenhuma jabuticaba à vista, a única cura seria um belo pudim de leite condensado. No supermercado, que surpresa, o Kondensmilch é vendido em caixinhas de papelão. Você segue a receita à risca e o pudim sai um horror. O que aconteceu? O Kondensmilch da Alemanha não tem açúcar, é um leite mais espesso, para temperar o café sem esfriá-lo muito. Mas seu sonho de um pudim ainda não está perdido: ou pergunte por Milchmädchen, da marca também popular no Brasil, ou – em geral, mais fácil de achar e mais barato – recorra ao "gezuckerte Kondensmilch" das lojas de produtos asiáticos.
Halver Hahn – Se você pedir um "meio galo" num bar ou restaurante de Colônia, receberá apenas um pãozinho de centeio com (muita) manteiga, duas fatias grossas de queijo gouda e um montinho de mostarda. Um equívoco intencional, nascido do safado humor renano.
"Das ist mir zu viel!" – Você fez uma proposta a alguém, a pessoa respondeu assim, e você pensa que está abafando. Afinal, a tradução literal é: "É demais para mim!". Condolências: você acabou de levar um fora e nem sabe. Enquanto para um brasileiro o excesso é positivo, "ser demais" é percebido pelos alemães como negativo. Interessante objeto de estudo para filólogos, psicólogos e sociólogos.
Como se diz "telefone celular" em alemão? – Esta é para adiantados. Os alemães não falam ao "Zelltelefon" (como brasileiros e norte-americanos), nem por "Mobilfon" (mobile para os ingleses, telemóvel em Portugal), ou "tragbares Telefon" (portable na França), e muito menos "Telefönchen" (telefonino na Itália). Aliás, cada país parece querer ser mais original do que o outro ao dar nome a esse melhor amigo do ser humano moderno. A denominação do celular na Alemanha (e Áustria) é um pseudo-anglicismo: Handy ou (horror supremo!) Händi. Também adotado em vários países asiáticos, o vocábulo vem do inglês, não está bem claro se a partir de handphone (telefone de mão) ou handy phone (telefone prático).
É, às vezes o alemão não é tão fácil quanto parece. Mas não perca a coragem!
Fonte: DW-World