sexta-feira, 5 de janeiro de 2007

Quando as palavras viajam

O alemão está mais presente no nosso cotidiano do que se imagina. Além de palavras reconhecidamente alemãs como blitz, kitsch ou diesel, outras como encrenca, chique, chope e bulevar também têm origem germânica.

Boa parte das palavras alemãs no nosso cotidiano está ligada à vida militar ou aos elementos químicos, fato explicado pela autoridade que a Alemanha, durante muito tempo, exerceu nestas áreas. Assim surgiram termos como bulevar, níquel ou cobalto.

O que nem todos sabem é que na língua portuguesa, entretanto, palavras que nada têm a ver com química ou guerra e não soam como alemão, também têm origem germânica.

Pesquisando a etimologia de termos como encrenca, chique, chope, valsa ou do refrigerante Fanta, acompanharemos uma interessante viagem que tais palavras realizaram da Alemanha diretamente para o Brasil ou passando, às vezes, por Portugal.

Encrenca no mangue

Através da competição Migração de Palavras organizada, recentemente, pelo Conselho da Língua Alemã (Deutscher Sprachrat) pessoas de 70 países puderam sugerir as palavras alemãs que "viajaram" para outros idiomas.

Das seis mil palavras apresentadas, o termo mais sugerido foi a versão francesa para clarabóia vasistas, do alemão was ist das?, literalmente, "o que é isto?".

Se todos soubessem, entretanto, que "encrenca" tem origem alemã, a nossa versão de "problema" também teria sido um grande sucesso. Tudo começou com as prostitutas judias que vieram para o Brasil no final do século 19 e começo do século 20, explica a historiadora Beatriz Kushnir, igualmente de origem judaica, que escreveu o livro Baile de Máscaras: Mulheres Judias e Prostituição.

Elas falavam iídiche, a língua dos judeus da Europa Central. Quando achavam que um cliente tinha doença venérea, falavam ein krenke (krank significa "doente" em alemão). Nascia assim a palavra "encrenca", usada desde então no português do Brasil para designar uma situação difícil.

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